PRIMAVERA NA SERRA DO SICÓ
Em Portugal poucos sítios existem onde o cinzel da erosão lapidou com tanta intensidade e arte a paisagem, rica em formações rochosas, tão caprichosas quanto atraentes. Também o dramático processo de desflorestação é, de sobremaneira, evidente na Serra de Sicó, conferindo-lhe um aspecto algo desolador.
A Serra de Sicó, localizada na Orla Meso-Cenozóica, apresenta uma litologia predominantemente calcária, onde podemos destacar os calcários dolomíticos do Jurássico Inferior, os calcários margosos do Liássico e principalmente os calcários compactos (calcíticos) do Jurássico Médio (Dogger). O relevo cársico encontrado nesta região apresenta algumas características únicas em todo o território português. As feições cársicas abertas (como por exemplo, os campos de lapiás e os algares) comprovam que grandes quantidades de água são absorvidas indo constituir enormes mananciais de água – a maior riqueza desta região. No subsolo do maciço calcário de Sicó encontramos importantes aquíferos cársicos, suficientes para abastecer as populações locais. A escassez de água verificada na superfície, devido à grande infiltração ao longo das falhas e das fracturas, constrói majestosas paisagens como o vale das Buracas e do Poio.
Os carvalhais eram os bosques que outrora dominavam estas paragens, onde predominavam o Carvalho-português (Quercus faginea subesp. broteroi), a Azinheira (Quercus rotundifolia), o Sobreiro (Quercus suber) e o Carrasco (Quercus coccifera). No entanto, e apesar do dramático e plurissecular processo da desflorestação que sofreu o nosso país, ainda é possível encontrar núcleos interessantes destas espécies, alguns deles em regeneração e recuperação.